imagens internet (valley neelum)
Era uma vez uma montanha muito
alta, que ficava num vale verde, rodeado de árvores antigas, alguns pinheiros,
alguns tipos de carvalhos, zimbros e toda natureza vivia feliz naquele vale
encantado!
Não muito longe dali havia um
pequeno povoado onde viviam pessoas antigas, partes de um grupo étnico que o
mundo desconhecia, salvo alguns visitantes inesperados a busca do Elixir da
Montanha Sagrada.
Bem, o elixir era algo que
ninguém sabia explicar o que era e quem sabia não falava, dizia apenas que cada
um tinha que descobrir por si só. E assim, passados muitos meses sem visitas
inesperadas, eis que apareceu uma.
Era uma mulher, até jovem, que
foi acolhida numa das famílias destinadas a acolher mulheres que vinham sem
companhia. Ela havia chegado com o transporte regular de mantimentos – quase
todos usavam este sistema.
Nitya vinha de muito longe, do
Norte da Índia, mas do outro extremo onde ficava o vale, nas fraldas entre
Kashmir e Paquistão e os Himalayas. Ela tinha traços suaves, claros, talvez
descendente de ingleses.
A dona da casa a encaminhou ao
seu quarto, simples, mas aconchegante e Nitya sorriu satisfeita. A noite ia
esfriar e D. Leela resolveu acender a fogueira o que agradou em cheio Nitya que
adorava o elemento fogo.
Para o jantar, D. Leela serviu
um ensopado de lentilhas, com arroz e alguns cogumelos silvestres que cresciam
em abundância naquele vale cheio de paz e algumas belas flores na primavera,
que por sinal estava chegando ao fim.
Parecia que ela adivinhava o
gosto de Nitya em tudo, pois o prato a agradou de cheio. Depois sentou-se perto
da lareira e foi servida com um chá aromático mas delicado que completou o menu
de forma perfeita.
Ao sentar-se na outra poltrona
feita de colchas bordadas ou tricotadas na região, Nitya perguntou se D. Leela
sabia algo mais sobre a Montanha do que as pessoas em geral comentam, ou seja:
- Que era impossível acessá-la.
Mas que se sabe que alguns conseguiram, mas raros. E ninguém sabe qual foi o
segredo de tal façanha.
D. Leela sorriu como se soubesse
algo que a maioria não sabia e que nem ela diria a Nitya, porque o jogo era
precisamente esse: cada um tinha que descobrir por si – ter, portanto,
persistência e interesse suficientes.
Nitya quase adivinhou seus
pensamentos e disse: Talvez eu devesse primeiro tentar subir para então fazer a
pergunta, não é mesmo? Ou, quem sabe, ninguém deva nos responder algo, devemos
descobrir por conta.
D. Leela apenas acenou com um
sorriso e voltou a se perder nas danças das flamas fogosas, que davam um
espetáculo maravilhoso a ser apreciado, através do silêncio. E assim, em pouco
tempo o sono venceu ambas.
No dia seguinte o sol acordou
majestoso, o vale parecia mesmo irreal – algo difícil de descrever se não se
vive tal. D. Leela ofereceu chipas com ghe, manteiga clarificada e mel. Outra
vez acertou cem por cento o gosto de Nitya.
Ah, sem falar do chá, um pouco
mais arrojado, com um leve gosto de chá preto da melhor qualidade – divino
pensou Nitya, saboreando cada gole como se fosse um elixir de fato.
Logo depois saiu para dar uma
volta e apreciar a visão da Montanha ao longe, mas nem tanto – apenas alguns
quilômetros para chegar aos seus pés. E sem perceber foi andando e se sentou
num tronco confortável e ali ficou.
O tempo de repente parou. Foi
estranho. Parecia agora tudo mais irreal ainda. Nitya olhou para a Montanha e
jurou ver um ser sentado no alto dela, em tons azulados com alguns brilhos
prateados. Não podia ser, pensou...
Mas voltou a olhar e ele
continuava lá. Então teve a ideia de perguntar mentalmente quem era ele. E
esperou. O ser parecia ter ouvido e se virou para Nitya e a fitou de longe, ela
o sentia.
Ela se arrepiou levemente
quando ouviu dentro da mente uma resposta inesperada: sou você em outro tempo,
o tempo do não tempo. Você vive no tempo, eu vivo além dele! Apenas o tempo nos
separa...
Como assim, pensou sem
ponderar... ele é eu em outro tempo, sem tempo? Isso é muito estranho de
entender... e logo ouviu outra resposta: Sim, com a mente fica difícil –
relaxe, esqueça que tem mente e o que ela é...
Nitya parecia entender isso e
relaxou e sentiu como se a mente simplesmente deslizasse para fora de si como
água... e, de repente sentiu um Vazio pleno, algo incrível, maravilhoso e
olhando para o Ser, este disse:
- Sim, é assim que você
entenderá quem sou e quem você imagina que é. Relaxe mais, deixe a mente vazia
qual um vaso e não faça nada... apenas aprecie o vazio sereno e doce...
- Agora posso te falar e você
pode me ouvir. A Montanha Sagrada não é algo para ser escalado com a mente, nem
com as mãos, nem com nada humano. Ela só deve ser apreciada, como você fez sem
o saber...
- Ela representa seu Ser Eterno
Interno, que todos buscam escalar com algo, alguma técnica, alguma meditação,
alguma respiração... mas o fazer, via de regra, impede o acesso – apenas uma
profunda atenção seria suficiente...
- Como você fez sem o saber. Pois,
via de regra, você se identifica com sua mente, sua vida, seus gostos, seus
desejos e vive uma vida que parece sua, que parece que é o que é real, mas esta
vida é apenas uma fantasia mental.
- Já ouvi dizer, já li, mas
nunca vivi tal estado de ser. E confesso que ainda não sei como fazer, digo,
ser o que sou de fato e não este ego... por isso vim, para ver se a Montanha
poderia me ajudar, de algum modo...
- Então relaxe e me deixe
mostrar mais de Si... e Nitya relaxou e de repente ela sumiu da tela... o Ser
estava nela, ele era ela... e ela era ele. Não havia divisão nem confusão...
apenas uma sintonia, uma infinita alegria...
Não sabemos quanto tempo Nitya
ficou neste estado de SER o ser que se é, mas foi tempo suficiente para o sol
ficar pendente, parecendo após meio dia. E foi o chamado para almoçar que a fez
voltar a si... lentamente...
Olhou em volta e a Montanha
parecia agora outra – parecia que ela havia se entranhado nela, viva, e o Ser
junto. A mente parecia um ponto pequeno, distante, apenas observando... ou era
o contrário? Ela não sabia...
D. Leela logo viu que ela tinha
vivido o Segredo da Montanha e sorriu enquanto servia o cozido de lentilhas com
arroz selvagem – outra iguaria para o paladar de Nitya, prato este que ela
comeria todos os dias...
Nitya nada conseguia falar –
parecia que o silêncio a tinha cativado de tal modo que falar parecia romper
com o momento sagrado e viu que Leela sabia... comeram em silêncio e logo Nitya
foi se recolher.
No quarto, sozinha, fez não só
a digestão da comida, mas do vivido... levou horas entre um estado e outro –
parecia que o Ser estava se ajeitando dentro dela, achando espaço, deletando
dados da mente para caber nela.
Sim... era isso mesmo: ela
sentia que dados e arquivos antigos e sem valor, empoeirados pelo tempo, foram
deletados sem questionar – cada arquivo a menos pareciam megabytes de pura
leveza...
O Ser, como que encantado com a
nova situação, parecia sorrir no fundo, como uma criança que finalmente ganha
atenção e sossega... agora sim, ela pensou ou ele, posso ter mais paz... sinto
que achei o caminho de volta...
SIM, disse o SER para si...
para o resto de Nitya que sobrou, agora sim podemos iniciar o processo de
deletar todos arquivos obsoletos e apenas deixar a essência dos seus
aprendizados.
SIM, disse Nitya para si...
para o Ser que de fato era... agora entendi. Agora vi quanto lixo mental vinha
arquivando sem valor nenhum... achando que eram conhecimentos preciosos, talvez
tenham sido, mas agora são danosos...
SIM, disse o SER... agora vamos
ficar mais próximos a cada arquivo deletado e chegará o dia em que, estando a
Mente vazia, você já terá se identificado com seu Real Ser e não sentirá um vazio pesado, mas apenas a leveza de ser o
ser.
SIM, disse Nitya, consigo
entender isso e entendi mais, que preciso ajudar você que sou eu... MEU EU
REAL, para criar mais situações de comunhão contigo, pois, entendi que isso apagará
arquivos do eu antigo...
SIM, disse o SER, você entendeu
bem... sou um fragmento agora em tua CONSCIÊNCIA, mas em breve crescerei e você
diminuirá tua antiga identidade e eu me tornarei mais presente, mais forte e
mais potente.
SIM, disse Nitya, isso ficou
claro como um dia de céu azul... preciso ajudar... até você ficar grande e
forte... e daí eu, nós seremos UM e daí sim, não será mais preciso fazer
nada... apenas SER.
SIM... DISSE O SER. DAÍ SEREMOS
UM, ETERNAMENTE.
AUM.
09/12/18
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