Borboletas beijavam as flores sem parar,
como que para louvar seu perfume e cor.
Encolhida, rastejando, lá embaixo,
uma lagarta espreita as borboletas voando pelos céus...
Que inveja, pensou.
Porque não posso voar assim?
Inconsolada, triste e depressiva
subiu no galho mais alto da árvore,
como que para sentir as alturas deste modo.
- O que tens?
Assustada a Lagarta olhou e viu a bela Borboleta Azul,
que parecia feita de seda da cor da safira.
Ela olhou desconfiada, afinal, como poderia dizer que tinha
inveja de tal criatura?
Ela apenas rastejava em um corpo pesado e grosseiro.
- Podes confiar, disse a Borboleta!
- Podes me dizer o que quiser, que vou compreender.
A Lagarta pensou e então disse num impulso, para não se
arrepender:
- Quem sou eu, afinal?
A Borboleta bateu as belas asas e posou ao lado da Lagarta,
em cima de um frondoso pé de Amoras quase negras,
de tão maduras que estavam.
- Veja estas amoras: hoje estão negras, doces, maduras,
mas outrora foram verdes e duras.
Jamais a amora verde e dura poderia pensar que um dia
ela iria se tornar uma amora macia e doce!
- E o que isso tem a ver comigo, perguntou a Lagarta sem
entender?
- Tudo, disse a Borboleta da cor da Safira azul.
- Então não sabes quem és?
- Não sabes quem sou?
- Como assim, perguntou a Lagarta?
Que perguntas misteriosas são essas?
- Fazes parte de um algum grupo místico ou similar?
Rindo, a Borboleta confidenciou:
- Sim.
- Nós somos a Mística da Transformação.
- Nós somos o Mistério Maior.
- Você e eu, sendo a mesma, apenas em estágios diferentes.
- Cada vez entendo menos, disse a Lagarta agora quase
irritada.
- O que temos nós em comum?
- Estás a zombar de mim?
- De minha vida feito de rastejar, presa à matéria, ao chão, enquanto
Tu voas pelos céus, beijas as flores, e tens o vento a teu
favor...
E o Pai te revestiu de tantas cores que encantas a todos
com teus trajes multicores...
- Ora, ora, Lagarta querida... vejo que jamais te fizeste a
pergunta:
Como o Pai poderia ser tão injusto e te dar um corpo
rasteiro e a mim asas de anjos...
- Achas mesmo que haja tanta injustiça?
A Lagarta ainda nada entendia... e sua agonia apenas
aumentava dia após dia.
E então, encorajada pelas palavras da Borboleta, ela
irrompeu:
- Mas afinal, então,
quem sou eu?
E a Borboleta
respondeu:
- SOU VOCÊ AMANHÃ!
- Que dizes? Isso é uma heresia. Como podes acreditar em tal fantasia?
Já ouvi essa conversa de algumas Lagartas espertas, mas
claro que ignorei.
E agora tu vens me dizer que somos a mesma criatura?
Não tens compaixão de querer me vender tanta ilusão?
- Calma, amada irmã rastejante, o que hoje negas amanhã se
mostrará triunfante.
Não podes escapar ao teu destino de te transformar em uma
Borboleta.
Apenas podes retardar... se te negas a te transformar...
Ou nunca ouvistes falar em metamorfose, em transfiguração?
- Sim... mas tudo não passa de ilusão!
Sei que alguns professam tal religião ou como queiras chamar
tal.
Mas eu não. Sou realista, pé no chão... aliás, muitos pés no
chão...
Rindo, a Borboleta disse em tom de provocação:
- Sim... pés não te faltam, mas asas para voar.
E se insistes em negar tua real vocação, poderás atrasar tua
transformação...
Não sabes então que vais te transformar em Crisálida e
depois em uma
Bela Borboleta?
- Mas se insistes em manter tua crença na realidade atual,
em que rastejas, é verdade, não irás constatar que rastejar não é tua meta final.
em que rastejas, é verdade, não irás constatar que rastejar não é tua meta final.
- E se insistires em averiguar, perguntar, irás constatar que todas
belas Borboletas,
que tanto invejas, foram, outrora, Lagartas deste Planeta!
A Lagarta silenciou... talvez fosse o cansaço de rastejar...
A inveja de ver as Borboletas a voar...
Talvez fossem as conversas ouvidas às escondidas...
Talvez fosse o que havia lido em alguns livros...
Fato é que desta vez algo nela se comoveu...
Ela parecia poder antever que poderia ser... uma futura
Borboleta.
E isso a encheu de tanta alegria, que parecia explodir...
E pela primeira vez decidiu confiar... acreditar... para
ver!
Decidida, vencida pelo cansaço de tudo... ela disse enfim:
- Então está bem. Digamos que eu acredite no que tanto ouvi.
- Diga-me, o que preciso fazer para Ser como Ti?
- Teu fazer já se fez, disse a Borboleta.
- Tinhas que acreditar, pois todo o mais vai se realizar.
- Muitos fazem muitas coisas, bem o sei.
E enquanto acreditam que precisam FAZER PARA SER...
Deixe-os fazer... estão desgastando seu eu... lagarta...
Que acha que tudo se conquista pelo fazer.
- Como assim, perguntou a Lagarta?
- Há aqui um estranho mistério:
- Embora o fazer seja parte do processo, ele apenas te leva
ao cansaço...
de fazer... até a lagarta-eu compreender, que apenas o
soltar irá fazê-la voar...
O Não-fazer - o Wu wei... do Tao...
E como isso pode me ajudar, perguntou a Lagarta sem
entender!
- Vou explicar de outro modo, disse a Borboleta paciente.
- Em termos humanos tal conceito se define pelo estado de
consciência.
- A maioria vive apenas como Lagarta, rastejando...
- Comendo com o suor de seus rostos...
Esqueceram que são Borboletas potencialmente falando.
Buscam então se consolar
com prazeres, lazeres, com religião...
Tudo para suportar
viver como uma Lagarta presa ao chão!
Acreditam que poderão voar apenas depois de morrer, em algum
céu...
Um dia então, elas começam a virar meio crisálidas,
e começam a se perguntar, se a vida é só isso?
- Rastejar, rastejar, rastejar.
- Comer, casar, trabalhar... e sempre rastejar...
Então, sem o perceber,
já estão a meio caminho de sua transformação.
No estágio inicial da crisálida, que começa a questionar TUDO e a
querer uma explicação
desta vida que não pode girar em torno de um novo vestido,
ou de um novo carrão...
Ou mesmo de ter saberes intelectuais e alguns poderes "espirituais"...
Deve haver mais... muito mais...
Ou mesmo de ter saberes intelectuais e alguns poderes "espirituais"...
Deve haver mais... muito mais...
E eis que um dia, ela entende algo substancial (em termos
humanos):
- Que a Lagarta é sua consciência humana, natural, presa a
matéria, ao chão.
- A Crisálida é a consciência que inicia seu processo de
transformação...
- A Borboleta é a Consciência de sua Divindade totalmente
integrada, em vida,
como uma transfiguração ao vivo e a cores!
Virando Borboletas felizes, que se alimentam do perfume das
flores!
Estamos presos às Leis do Mundo das Lagartas e vivemos de “ais
em ais”.
Quando iniciamos o questionamento salutar,
que nos prepara para acreditar que somos mais...
Algo se transforma lentamente em nós...
O segredo está no
estado de Consciência:
- Diferente da Lagarta, Crisálida e Borboleta,
que realizam o processo materialmente,
o Ser Humano o realiza espiritualmente.
NA VERDADE, COM UMA MUDANÇA DE CONSCIÊNCIA.
E isso requer parar de se identificar com o estágio Lagarta.
Pois Identificar cria tal Identidade...
Releia: a identificação cria ou reforça a identidade, seja ela qual for.
SE APENAS TE IDENTIFICAS COM TEU EU-HUMANO, CONTINUARÁS
HUMANO.
SE COMEÇAS A TE IDENTIFICAR COM TEU-EU DIVINO, SERÁS DIVINO!
Me digas com quem andas, te direi quem és.
Me digas como vives, onde focas teu viver... e te direi quem
és...
Ou seja: qual dos eus estás a reforçar: o humano ou divino?
Seja via lazer, prazer, fazer, ver, ler, cantar, falar, pensar...?
O ego, a consciência-ego percebe, um dia, que ele precisa se
tornar
plenamente CONSCIENTE
que não é ego em essência,
Apenas como estágio temporário.
Precisa deslocar a CONSCIÊNCIA do ego para quem ele É EM ESSÊNCIA.
Isso requer alguma ajuda, pois poucos o conseguem sozinhos
ou apenas
ENTENDENDO... embora isso ajude muito e para alguns baste!
As ajudas são muitas, algumas equivocadas, no fundo reforçam
a ligação com o eu.
E cada um deve achar um caminho seu, um meio, método,
que lhe toque forte o
suficiente, para provocar o salto final...
Pois: O QUE NÃO TE TOCA, NÃO TE TRANSFORMA!
Enfim, algo que provoque um salto quântico, onde ocorre o contrário:
A partícula se transforma em onda... DE PURA LUZ...
O eu-humano não morre tal qual na lagarta; ele se transforma
no eu-divino.
Melhor, ele se TRANSFIGURA... em uma NOVA CRIATURA.
Mas não material, como na Lagarta, e sim espiritual.
EIS O MISTÉRIO DO “NASCER DE NOVO”.
EIS O MISTÉRIO DOS MISTÉRIOS!
DOS QUE MORREM EM VIDA!
MORREM ANTES DE MORRER (FISICAMENTE).
MORRE O VELHO EU, O VELHO HOMEM, O ADÃO...
E RENASCE O NOVO EU, O NOVO HOMEM, O ADAM-KADMON...
E ENTRA NA FILEIRA DA
"FRATERNIDADE DOS LIBERTOS",
MAIS UM
"FRATERNIDADE DOS LIBERTOS",
MAIS UM
HOMEM DIVINO,
HOMEM-BUDDHA,
HOMEM-CRISTO.
MAIS UM FILHO QUE À CASA DO PAI REGRESSOU!
MAIS UM FILHO QUE À CASA DO PAI REGRESSOU!
EIS O MISTÉRIO DA RESSURREIÇÃO... RESSURGE A BORBOLETA,
DO CORPO RASTEJANTE DA LAGARTA... E VOA... AOS CÉUS...
ISSO É A PRIMAVERA DA ALMA HUMANA.
E VIVA A PRIMAVERA HUMANA!
QUE NÃO MAIS VIVE PELO SUOR...
MAS PELO PERFUME DA FLOR!
“BUSCAI O REINO DOS
CÉUS EM PRIMEIRO LUGAR,
E TODO O MAIS VOS SERÁ
DADO POR ACRÉSCIMO”.
O REINO DOS CÉUS ESTÁ
EM VÓS...
VÓS SOIS DEUSES...
SEDE LUZ NO MUNDO...
VÓS PODEIS FAZER O QUE
FAÇO...
SEGUI MEU EXEMPLO...
(TORNAI-VOS CRISTOS)
Vem Primavera, vem me
vestir com Asas...
(De uma Crisálida
doida para Voar...)
Nenhum comentário:
Postar um comentário